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Foto do escritorEntreAtos

CUCO A LINGUAGEM DOS BEBÊS NO TEATRO


Depois de inúmeras incursões com o Teatro de Bonecos para o público infanto-juvenil e adulto, com grande sucesso, a Cia. Caixa do Elefante apresenta o seu primeiro espetáculo exclusivamente para bebês. Tarefa complexa por se tratar de um público muito específico que recém começa a descobrir o mundo sem dominar os códigos gestuais e a linguagem falada. Tampouco elaboram, racionalmente, os conteúdos que assimilam no ambiente imediato e que precisam ser traduzidos pelo auxílio dos pais. Na relação estreita entre pais e filhos os primeiros filtram e modulam as experiências para os segundos. Embora nem sempre isso seja possível, uma vez que os bebês dispõem de instinto e sensibilidade para apreenderem o mundo de maneira muito mais subjetiva e simbólica.

Desafio que Mário de Ballentti e a Caixa do Elefante tomaram como exercício de aprendizado e comprometimento de fazer o melhor para essa fatia expressiva do público que, literalmente, dá seus primeiros passos na vida. Uma tradição teatral que já existe na Europa, mas que no Brasil ainda engatinha. E justamente por isso eles se cercaram de uma equipe experiente no universo dos bebês e do trato infantil da primeira infância. Além de viajarem para Itália e Espanha para ver e estudar o melhor do Teatro para Bebês feito atualmente, a equipe de atrizes contou com o apoio do pedagogo Paulo Sergio Fochi, além de uma ficha técnica de profissionais envolvidos no universo infantil. Teoria e prática bem equilibradas que resultou num processo rico e criativo na construção de um espetáculo genuinamente para bebês.

O que assistimos na Casa de Cultura Mário Quintana, na segunda sessão deste sábado, foi uma experiência significativa para bebês e os seus pais. Nota-se um cuidado especial, desde o acolhimento das famílias num espaço lúdico, antes de entrarem para a sala propriamente dita. Ali as crianças brincam com outras crianças e os pais podem ficar a vontade com seus pequenos. Antes de iniciar o espetáculo, Mário se apresenta ao grupo e pede que para as famílias que há espaço para deixarem os seus pertences e também tirarem os sapatos. Que a sala de espetáculo tem um linóleo especial para que os bebês possam engatinhar à vontade quando forem estimulados a isso. Há cadeiras especialmente acolchoadas, dispostas no chão, e também cadeiras ao redor do palco. Durante o trabalho das atrizes as crianças devem permanecer no colo dos pais. Somente quando as bolas coloridas forem lançadas no espaço elas poderão ficar soltas para interagirem com os objetos. Por último, ele enfatiza que: caso a criança comece a chorar ou fique contrariada por qualquer motivo, o pai ou a mãe deve sair da sala com ela e só retornar quando a criança estiver mais calma. Feitas todas as observações, o público passa para o teatro.

No centro, duas atrizes, vestidas com pijamas azul claro, fazem alongamento sobre dois edredons se espichando como se fossem crianças. Uma trilha sonora muito delicada, bem como as sequências corporais e gestuais desenhadas pelas atrizes, dá a tônica do trabalho para encantar os bebês. O contato visual é enfatizado para que as brincadeiras de ocultar e revelar sejam valorizadas. Elas usam e abusam dos edredons para se enrolar, se esconder ou se mostrar, em coreografias simples para que sejam apreendidas pelos bebês. Utilizam o contato improvisação da dança como recurso lúdico para enriquecer as coreografias. Desenvolvem brincadeiras dentro de triângulos e formas geométricas. Tiram o pijama e ficam com outro pijama multicolorido, bem como as meias de arco íris. O ponto alto do espetáculo é o tecido azul que elas retiram do fundo como se trouxesse o mar e o céu para bem pertinho das crianças, principalmente, quem está sentado ao nível do chão. A leveza e o arfar do tecido faz com que entremos dentro dele, no ritmo das ondas do mar. Recurso simples, mas de grande apelo sensorial e impacto visual. As crianças e os pais vibram muito. Na sequência, retornam com o mar para o fundo fazendo um túnel de onde retiram as bolas coloridas de vários tamanhos. Trazem bolinhas multicores e o palco se inunda de objetos e a vitalidade das cores. Impossível conter os bebês que, a estas alturas, estão vibrando de contentamento e começando a entrar em cena. Pouco a pouco as atrizes vão saindo e deixando o palco todinho para essa confraternização sensível e divertida. Onde os pais são convidados a ver e ouvir os seus pequenos. Perceber suas descobertas e interagir em brincadeiras motoras e sensoriais. Ganham adultos e crianças que, de um jeito amoroso e simples, se deixam envolver pelo prazer do jogo.

Não há finalização formal com palmas nem agradecimentos. Tudo isso está implícito no modo como todos se entregam ao brincar na grande arena da vida. Muitas risadas, gritinhos de satisfação e alegria no semblante de pais e filhos. A missão foi feita com propriedade e naturalidade, num espetáculo sofisticado e despojado. Ponto para a Caixa do Elefante que se firma como um grupo que investiga linguagens, propondo novidades no cenário gaúcho e brasileiro. Uma ótima opção com qualidade para crianças de 0 a 3 anos de idade e para pais com vontade de oferecer diversão sensível para os seus filhos.


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